Analisando a voz da Paula Toller - 1ª fase Kid Abelha (anos 1980)

Na resenha de hoje vamos analisar a voz de Paula Toller, uma das maiores cantoras pop do Brasil. Vamos analisar sua voz em toda a sua trajetória vocal desde o Kid Abelha até os dias de hoje. Para isso dividimos a análise em períodos pra ficar mais compreensível a leitura. Aproveitem.


Seu Espião




No 1º disco de Paula Toller com o Kid Abelha e os Abóboras Selvagens,'Seu Espião',sua voz soava estridente, anasalada,insegura, sem equilíbrio nos espaços de ressonância, uma voz infantilizada e insegura. A voz dela estava muito na frente, não havia equilíbrio de espaços como palato mole, orofaringe. Uma coisa que dá pra reparar é que ela não sabia usar a respiração a seu favor, ficava tudo na respiração bucal e nasal , ela não sabia usar o apoio pra sustentar as notas, nem o diafragma para ter resistência vocal. O timbre era bem bacana tinha uma sonoridade adolescente, porque era o espírito de quem consumia esses discos nessa época, apesar da evidente desafinação. Mostrava um  vocal muito inseguro, com muitas quebras vocais, o que dá pra perceber é que ela não sabia usar adequadamente os pontos de ressonância como a Máscara e a Projeção, que consiste em utilizar o palato mole para cantar numa região mais no fundo da boca, utilizar conscientemente todos os espaços, e, por consequência ter uma articulação mais precisa. A impressão que dá é que ela além de desafinar, ela ta forçando a voz, apertando.



Educação Sentimental



A voz ainda estava estridente, mas houve uma significativa melhora de um disco pro outro. Ela já sabia utilizar melhor os espaços de ressonância,  se resolve também na orofaringe. Ela usa bastante o registro de Cabeça que é o registro agudo, mas com prega vocal ativa e firmamento glótico. Mas nesse disco em particular sua voz ganha mais corpo, fica mais grave devido as mudanças vocais constantes, sabendo também usar essa mudança utilizando voz mista em alguns momentos. Na música 'Os outros' ela usa prega passiva, deixando o ar entrar mais na voz, fazendo menos força.


Kid Abelha e os Abóboras Selvagens ao Vivo



Uma voz bastante aguda, mas um pouco insegura na projeção, quando tinha que cantar os graves também saía inseguro, saía com menos intensidade, soproso nos graves. Tem momentos que ela cantava com tensão, forçando um pouco a voz e desafinando em diversos momentos. A voz ainda estava um pouco estridente. Tem uma questão também que é com relação a respiração, parece que tem notas que ela tem dificuldade de cantar por não saber usar adequadamente o apoio diafragmático. Em "Nada Tanto Assim" ela usa um pouco de Vibrato.

Tem momentos que entra muita massa na prega vocal tentando dar força pro agudo na região de peito. 



Tomate 



Uma voz em fase de amadurecimento, já tinha evoluído bastante, tinha a questão também da muda vocal a voz dela estava naturalmente mais grave. Ainda estava um pouco estridente, com saída de muito ar, mas teve uma bela evolução. 'No Meio da Rua' demonstrava um amadurecimento vocal bem legal da cantora misturando mais a voz com o grave e prega vocal ativa o que é bem difícil de ver em toda a trajetória de Paula. Dá pra perceber também, com a maturidade da cantora, um timbre muito bonito porém que desafina muito quando precisa mudar de registro. Algumas letras do Kid Abelha parecem que amadureceram também em relação aos outros discos como 'Dança'. Nas músicas 'Leão','Mais Louco' a cantora mostra sua evolução musical, trabalhando as dinâmicas na voz, que viraria sua marca em discos ao vivo nos anos 2000, em sua carreira solo.

O que dá pra perceber é que a cantora usa mais a Extensão Vocal, cantando mais notas graves, com maturidade musical muito maior do que nos últimos discos.


Kid 



        Uma voz cada vez mais madura, letras mais profundas um som cada vez mais consistente, saindo um pouco do universo adolescente e começando a galgar passos maiores. A estridência e desafinação diminuíram consideravelmente, o que a gente vê é uma voz que soa diferente e que mesmo assim não perde sua identidade vocal, mas que apenas amadureceu com a prática do canto, de vocalizes, com a maturidade do corpo como um todo e a técnica vocal também. Em 'Dizer não é dizer sim' a banda, tanto a Paula quantos os backings, usam a prega vocal passiva com mais saída de ar e a glote aberta. A impressão é de que ela começa a ter mais controle da voz de Cabeça, com fechamento glótico. Ela usou um pouco de falsete em 'Sexo e dólares'. 

Destaque para 'Paris, Paris' que poderia ser uma das músicas mais bem feitas e interpretadas do Kid Abelha. A letra, a interpretação, o arranjo são sensacionais, o piano, o solo de sax, é muito bom. A música 'Promessas de Ganhar' tem um funk bem bacana que retrata influência do funk e soul brasileiro dos anos 60/70 mostrando um pouco das influências do Kid Abelha já comentada em entrevistas.

É um disco bem maduro, começando pelas letras, pela sonoridade, e pelo vocal de Paula Toller que ganhou forma com mais graves e notas mais precisas.

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